quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Economia e Mercado de Trabalho

É inegável que ao longo dos tempos somos educados para o trabalho, conceito este definido por Bueno (1988, apud KRAWULSKI, 1988, p.7) como sendo um “...exercício, aplicação de energia física de algum serviço, numa profissão, ocupação, mister, ofício, labuta, esforço; esmero, cuidado, dedicação, feitura de uma obra; a própria obra já executada; livro, compêndio; escultura, pintura; aflição, sofrimento; parto”. Com esta definição ao voltar o olhar para a história da humanidade, pode-se verificar que desde os primórdios existiu o trabalho, o que difere os diferentes períodos históricos não é o que se faz, mas como se faz os meios de trabalho, os instrumentos utilizados e a importância social atribuída a ele, entretanto enquanto condição humana permaneceu. Ou seja, o homem diferente de todos os outros animais é capaz em sua mente visualizar a construção de um projeto antes de torná-lo real. O homem com sua própria ação, transforma, impulsiona, modifica a natureza, afim de apropriar-se dos seus recursos, imprimindo-lhes forma útil a vida humana. Nessa ótica, com certo dispêndio de esforço racional e consciente o trabalho sempre foi um modo de satisfazer alguma necessidade humana sendo ela física ou psicológica.


Com a evolução dos diferentes modos de produção, vão surgindo modificações no sentido que as pessoas dão ao trabalho e em tantos outros aspectos, sendo que no modo de produção capitalista, com o advento da revolução industrial se reconhece o rompimento de muitos aspectos encontrados em vários outros modos de produção tais como a tradição, religião, família, valores que vão dando lugar a uma sociedade organizada com base na produção. De acordo com Cattani (2000, aput ROCHA, 2004 p. 116), “Com o processo de industrialização e o capitalismo houve grandes modificações na relação que o homem estabelecia com o seu trabalho. Com o desenvolvimento do sistema capitalista, o trabalho assume a forma de mercadoria.”

É importante ressaltar que neste período surge o termo emprego, definido como uma relação onde existe um vínculo seja ele formal ou informal existindo uma remuneração. De forma geral a noção de emprego estava, até o final do fordismo, associada à idéia de estabilidade, previsibilidade e certeza. Com a transição para o pós-fordismo/toyotismo incorporando profundas transformações como a globalização, inovações tecnológicas, níveis de exigência cada vez maiores do mercado de trabalho, verifica-se uma flexibilização nas relações de trabalho.

Atualmente com as privatização de empresas públicas e conseqüente demissões em massa, verifica-se cada vez mais a precarização do trabalho e suas relações, sendo que o trabalhador vê-se forçado a buscar um novo perfil em um mercado cada vez mais exigente. Por outro lado, é senso comum a importância do trabalho na vida em sociedade. Segundo Castells (1999, p.265),

o processo de trabalho situa-se no cerne da estrutura social [...] e a transformação tecnológica e administrativa do trabalho e das relações produtivas dentro e em torno da empresa emergente em rede é o principal instrumento por meio do qual o paradigma informacional e o processo de globalização afetam a sociedade em geral.

Portanto, com todas as mudanças e inovações que surgiram, tem-se inicio, a novas exigências, que tende a mudar cada vez mais rotinas e conceitos. Trabalho, emprego, lazer, a maneira das pessoas se relacionarem, vida pessoal, estão modificando-se com rapidez na economia globalizada, ingressar nesse processo não é mais uma escolha, mas uma circunstância que acaba envolvendo a todos. Esta à frente quem se antecipa, adaptando-se rapidamente as novidades que chegam a cada dia. Eis que surge então o conceito de empregabilidade que baseia-se numa recente nomenclatura dada à capacidade de adequação do profissional às novas necessidades e dinâmica dos novos mercados de trabalho. Remete à capacidade de um profissional estar empregado, mas muito mais do que isso, à capacidade do profissional de ter a sua carreira protegida dos riscos inerentes ao mercado de trabalho.

De acordo com Minarelli (1995, p.50-71) existem seis pilares da empregabilidade, que garantem a segurança profissional do indivíduo: i) adequação vocacional (motivação e prazer pelo trabalho; estar na profissão certa); ii) Competências profissional (capacidade de liderar pessoas; preparo técnico;habilidade política; habilidade de comunicação oral e escrita em pelo menos dois idiomas; habilidade em marketing; habilidade de vendas; capacidade de utilização dos recursos tecnológicos); iii) Idoneidade(ética; conduta; correção;respeito); iv) Saúde física e mental (Cuidar do equilíbrio, do desgaste exagerado, cuidar do corpo, pessoas saudáveis tem bons relacionamentos e interage de maneira favorável); v) Reserva financeira e fontes alternativas de aquisição de renda(a perda do emprego significa a perda da entrada de receita, você deve fazer uma reserva mês a mês, a reserva é uma defesa uma garantia que o sustenta); vi) Relacionamentos (quem conhece pessoas, adquire informações importantes e relevantes, uma pessoa cuidadosa registra seus relacionamentos).

Outra conseqüência visível das transformações que vem ocorrendo nas últimas décadas é o redimensionamento do termo empreendedorismo, definida por Bom Ângelo (2003, aput LISBOA, 2007, p. 1) como sendo “... a criação de valor por pessoas e organizações trabalhando juntas para implementar uma idéia por meio da aplicação de criatividade, capacidade de transformação e o desejo de tomar aquilo que comumente se chama de risco”. O empreendedor possui algumas características principais: a primeira delas é a necessidade de aprovação, independência, desenvolvimento pessoal, segurança e auto-realização que influenciam no seu comportamento. A segunda são valores de existência, estéticos, intelectuais, morais e religiosos, impactam diretamente nas tomadas de decisões. A terceira diz respeito às habilidades diz respeito as suas habilidades de identificar novas oportunidades, pensamento criativo, comunicação persuasiva, negociação e aquisição de informações. A última é um fator chave para o sucesso do empreendedor, o conhecimento que este possui (Lisboa, 2007).

Pesquisas recentes mostram que no Brasil, apenas 14% dos empreendedores têm formação superior e 30% sequer concluíram o ensino fundamental, enquanto que nos países desenvolvidos, 58% dos empreendedores possuem formação superior (pesquisa GEM - edição 2008). De acordo com estudiosos no assunto, quanto mais alto for o nível de escolaridade de um país, maior será a proporção de empreendedorismo por oportunidade.

Na busca de uma melhor compreensão da sociedade em que vivemos, buscando explicações para transformações e incorporações dos conceitos como trabalho, emprego, empregabilidade e empreendedorismo que surgiram ao longo dos anos, os valores das organizações constitui uma fonte primordial, estas por sua vez estão “organizadas em torno de um sistema de valores que constituem uma doutrina e apresentam-se como enunciados de verdades” (Sarriera, 2004, p. 129). Os valores de uma sociedade estão compartilhados, por hábitos, usos e costumes, códigos de conduta, tradições e objetivos que são aprendidos das gerações mais velhas, impostas pelos membros atuais da sociedade e passadas sucessivamente para as novas gerações. Desta forma, o compartilhamento destes valores passam a guiar e controlar certas normas de comportamento, sendo possível através deles ter uma visão parcial do funcionamento da organização e de sua cultura organizacional.

Elementos como valores, crenças e pressupostos, ritos, rituais e cerimônias, sagas e heróis, estórias, tabus, normas, filosofias de vida entre outros estão implícitos ou não estabelecidos declaradamente na cultura organizacional de uma instituição. Freqüentemente, esses elementos fornecem uma interpretação ou uma mensagem para os membros da organização a respeito do que considera-se importante e válido, sendo vividos dentro da organização por acreditarem ser uma garantia para o sucesso. Vale ressaltar que como o trabalho que representa diferente importância para os indivíduos, os valores sociais também são hierarquizados de diferentes maneiras.

Dentro deste contexto ao voltar o olhar para a área econômica, pode-se concluir que o economista como tantos outros profissionais devem estar alinhado às transformações ocorridas no mercado de trabalho, entretanto este profissional deve ter um forte arquivo dos acontecimentos passados, assim como também os olhos e mente bem aberto no presente e no futuro. Este profissional tem que ter uma forte visualização do ambiente em que atua tanto internamente como externamente, assim o economista ao ser consultado, deve estudar as possibilidades, compreender as conjunturas macro e microeconômicas, para que depois possa tomar qualquer decisão, ajudando estas tanto em âmbito público como privado. Vale ressaltar, que cada vez mais as previsões feitas por estes profissionais são capazes de alterar a realidade.

Percebe-se, que tanto para o economista como para profissional de outras áreas, a economia que emergiu após o fordismo, concomitantemente com o mercado de trabalho mais flexível, levou a busca incessante por eficiência e sucesso tornando impossível separar trabalho, emprego, empreendedorismo, empregabilidade do resto da vida. Para os produtores de idéias, intelectuais e aqueles que desempenham tarefas flexíveis, o mercado requer a criatividade vinte e quatro horas por dia, não se tem como ir para casa e deixar de pensar, às vezes a idéia mais criativa surge em um momento de lazer, não se trata mais de expansão do horário de trabalho, mas uma mistura entre trabalho e vida. Não podendo separá-las, vale uni-las numa síntese equilibrada traduzindo-as no que Domenico De Masi chama de “Ócio Criativo” (2001, p.26), ou seja:

Quem é mestre na arte de viver distingue pouco entre o trabalho e o tempo livre, entre a própria mente e o próprio corpo, entre a sua educação e a sua recreação, entre o seu amor e a sua religião. Com dificuldade sabe o que é uma coisa e outra. Busca simplesmente uma visão de excelência em tudo que faz. Deixando que os outros decidam se está trabalhando ou brincando. Ele pensa sempre em fazer ambas as coisas ao mesmo tempo.

No mundo moderno trabalho, emprego, empreendedorismo, empregabilidade e valores organizacionais assumem diferentes graus de importância dependendo de cada indivíduo, no entanto, verifica-se que para todos, independente da área de atuação, o mercado atual exige que o indivíduo busque a desenvolver o seu potencial ao máximo, inovando-se constantemente, buscando novas formas de permanecer no mercado.

        Acadêmica: Débora Aparecida Rezini                   

REFERÊNCIAS

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. 6.ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999
CHIAVENATO, I. A corrida para o emprego: um guia para identificar, competir, conquistar um excelente emprego. São Paulo: Markron Books, 1997, p.57-83.
DE MASI, Domenico. A Economia do Ócio, organização e introdução.In: RUSSELL, Bertrand.O Elogio ao Ócio. In: LAFARGUE, Paul.O Direito ao Ócio. 2º ed.Tradução de Carlos Irineu W. da Costa, Pedro Jorgensen Júnior e Lea Manzi. Rio de Janeiro: Sextante, 2001.183p. Título original: Economia dell’ozio.
LISBOA, M. D. Empreendedorismo. Texto do Curso de Formação em Orientação Profissional – Instituto do SER, 2007.
KRAWULSKI, E. A orientação profissional e o significado do trabalho. Revista da ABOP, v. 2.1, 1998.
MINARELLI, J.C. Empregabilidade: como ter trabalho e remuneração sempre. 15 ed. São Paulo: Editora Gente, 1995, p. 37-74.
ROCHA, K.B.; SARRIERA, J. C.; PIZZIANATO A. Significado do trabalho e seus valores organizacionais. IN: ROCHA, K.B.; SARRIERA, J. C.; PIZZIANATO. Desafios do mundo do trabalho: orientação, inserção e mudanças. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004.

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