quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Profissão: uma escolha e realização

Escolher uma profissão, um trabalho ou a carreira que vamos desempenhar ao longo de nossas vidas não é uma tarefa das mais fáceis. Há muito tempo os jovens que anseiam por ingressarem no mercado de trabalho andam as voltas em como definir o que querem fazer de suas vidas profissionais. É bem verdade que os avanços tecnológicos, as altas taxas de desemprego, e a instabilidade decorrente de um mercado econômico aberto e suscetível a mudanças constantes tornam-se sérios agravantes. Neste sentido, nos perguntamos como podemos buscar uma carreira profissional, sem dispor dos conhecimentos de algumas das nuances envolvidas na escolha de uma profissão e aventurar-se no mercado de trabalho? Como podemos além de conseguir colocação encontrar realização profissional naquilo que escolhermos fazer? Ainda poderíamos aventar mais uma questão. Existem possibilidades de termos realização e prazer naquilo que fazemos como trabalho, ou seja, naquilo que nos dá condições de satisfação de nossas necessidades básicas?


Vemos em Krawulski (1998) que o trabalho está presente desde o início da história do homem e que este último sendo marcado por uma condição básica de insatisfação é conduzido, por um instinto de conservação ligado a um aspecto biológico, a satisfação e atendimento de suas necessidades. Contudo, existe ainda um outro aspecto de ordem psicológica, que permite ao homem enquanto satisfaz suas necessidades primárias durante o seu trabalho encontrar um sentido ou uma auto-realização naquilo que está executando.

Por muitos séculos o trabalho tinha como objetivo produzir bens voltados para o próprio consumo, como produtos agrícolas sempre ligados a terra; ou mesmo as atividades de artesanato eram sempre direcionadas ao atendimento de suas necessidades mais imediatas, mas existia em todas estas atividades um elemento fundamental de satisfação. Todas elas eram caracterizadas pelo envolvimento dos sujeitos no início, meio e fim dos processos.

O Trabalho artesanal não era, pois, apenas uma atividade útil; além disso, trazia em si uma profunda satisfação, pois, em sua realização, os artífices aperfeiçoavam suas potencialidades e destrezas”. (Krawulski, 1998, p. 9).
O intenso desenvolvimento artesanal e comercial gerou significativas mudanças estruturais nas sociedades e na economia, que então culminaria gradativamente na era capitalista, que tiveram como requisitos a produção de mercadorias em grande escala e a circulação intensificada através do comércio. Como conseqüência de tais mudanças ocorreram transformações na concepção do trabalho e em suas atividades. Mudanças estas que refletem também na esfera psicológica, passando a predominar “um sentimento de inquietude” que envolve a todos, onde sucesso material e riqueza passam a ser palavras de ordem. Há uma fundamentação na ideologia do progresso baseada na rápida industrialização. E neste período dá-se início ao processo de submissão do trabalho ao capital. O trabalho que inicialmente aparece na história vinculado ao atendimento de necessidades de existência, a partir dessas mudanças gradativas passa a ter uma conotação puramente econômica (Krawulski, 1998).

Neste contexto histórico o significado que o homem atribui ao trabalho passa por mudanças e transformações que estão diretamente influenciadas pela lógica capitalista. O trabalho perde a sua dimensão social e passa a assumir:

“(...) um conceito ideológico de trabalho que foi construído dentro de uma perspectiva moralizante e utilitarista, resultando no atendimento das relações capitalistas de trabalho como naturais e necessárias, às quais o indivíduo deve se conformar” (Krawulski, 1998, p. 13).

 
Minarelli (1995) nos adverte da situação brasileira em função de seus contrastes quanto a diversos níveis de desenvolvimento e modernização empresarial e industrial. Com a abertura do mercado aos produtos estrangeiros nas grandes capitais é sensível a dificuldade encontrada na aceitação dos produtos, pois com uma conexão com o mercado externo fica mais fácil aos consumidores terem acesso a produtos de melhor qualidade, que agregam maior tecnologia e, principalmente, preços mais competitivos. O autor ainda salienta os aspectos relacionados à reorganização dos sistemas produtivos no Brasil, que vem se dando de maneira gradual e variando de acordo com o grau a que as empresas brasileiras vão sendo expostas ao mercado externo, criando o que ele chamou de “bolsões de modernidade e de atraso”. Tais empresas garantem uma sobrevida ao tipo de profissional que resiste às mudanças – profissional dinossauro.

O profissional precisa aprender a deixar algumas coisas mais antigas irem embora e absorver outras novas, sem ficar frustrado com isso. (...) Como o bambu que se curva sob a ação do vento, permanecendo intacto quando o tempo fica novamente estável” (Minarelli, 1995, p. 44).

Com base nestes elementos buscamos compreender qual o significado do trabalho para os sujeitos. Estabelecer uma visão mais clara acerca do que está por traz de nossas escolhas e de nossas percepções em relação ao mundo do trabalho.

Sendo assim, podemos refletir que o trabalho ao passar por todas estas mudanças, as quais foram sucintamente descritos até aqui, produzem reflexos e marcas indeléveis na vida dos sujeitos. Os processos produtivos envolvidos nas mais diversas atividades sofrem constantes mudanças que objetivam maiores resultados e lucros aos detentores do capital e dos meios de produção, restando àqueles que buscam ingressar no mercado de trabalho adaptar-se, ou como salienta Krawulski (1998) conformar-se ao conceito moralista e utilitarista, próprio da naturalização das relações capitalistas de trabalho.

Acreditamos apesar da constatação das dificuldades apresentadas aos sujeitos ingressos e já atuantes no mercado de trabalho, que é possível fazer escolhas quanto ao rumo que devemos dar a nossa carreira profissional. Conforme Sarriera et al. (2004), o significado do trabalho se constrói a partir de uma compreensão subjetiva, que é variável de individuo para indivíduo, onde o indivíduo em sociedade ao apropriar-se de concepções de trabalho presentes em seu tempo histórico recombina estes elementos e atribui um sentido todo próprio.

Com base neste argumento podemos pensar na construção de uma realidade que não fique apenas limitada às imposições da lógica capitalista, mas que amplie a perspectiva dos sujeitos quanto à sua atuação. O fato de estarmos inseridos em uma cultura e em uma sociedade em que os valores reforçados priorizam o individualismo, não nos isenta da responsabilidade que temos com o coletivo. Por isso, como afirma Sarriera et al. (2004):
 
    “impõem-se a necessidade de repensar os valores individuais, organizacionais e sociais, identificando o quanto estes encontram-se inter-relacionados, para que o trabalho possa significar uma possibilidade de auto-realização e fonte de desenvolvimento social” (Sarriera et al., 2004, p. 131).

Uma proposta que nos parece bem atual é aquela sugerida por Minarelli (1995), em que propõe um novo conceito, denominado de empregabilidade, que vem corroborar com tal idéia de ampliação e maior envolvimento de todos os seguimentos no sentido de propor políticas ou orientações nas áreas de treinamento e desenvolvimento. Em poucas e simples palavras podemos compreender o conceito de empregabilidade como “a condição de dar emprego ao que se sabe, a habilidade de ter emprego” (Minarelli, 1995, p. 37).

Há uma tendência de mercado que não mais garante que um empregado fique na organização até sua aposentadoria. O resultado é que as pessoas estão obtendo formações mais generalistas para atenderem à demanda das organizações, as quais buscam pessoas com conhecimento amplo e múltiplas habilidades. É possível considerar bastante oportuno para os empregadores que seus profissionais sejam multitarefas, que tenham “habilidade para tocar sete instrumentos”. Entretanto, não podemos esquecer que esta exigência de mercado acaba criando após anos de estudos (que não deve deixar de ser um hábito), dedicação a uma carreira e visão ampla dos processos envolvidos na organização onde atua, alguém autônomo e apto para seguir uma carreira solo.

Talvez agora possamos dispor de alguns elementos que nos darão condições de responder, ou pelo menos ampliar a percepção acerca das questões que propomos no início deste texto. Para ingressarmos no mercado de trabalho é possível fazer sem nenhum conhecimento ou mesmo informações sobre o que é relevante, mas as chances de realização na atividade que venhamos a desempenhar acabam ficando bem reduzidas. Adequação profissional é um dos pés do “quaradouro”, como nos adverte Minarelli (1995), ao lado dos outros cinco pilares que sustentam a empregabilidade: competência profissional, idoneidade, saúde física e mental, reserva financeira e relacionamentos.

Obter realização profissional não é nada fácil. Encontrar aquilo que te dá prazer, e, desejo, em querer estar cada vez mais envolvido com o seu trabalho demanda tempo e dedicação ao seu autoconhecimento. Talvez não tenhamos maturidade no início de nossa carreira para identificar àquilo que é nossa “âncora de carreira”, mas estarmos desde o início orientados com os nossos valores, certamente é um grande começo para que possamos nos respeitar e escolher entre as oportunidades que surgirem, àquelas que nos darão satisfação e, possivelmente, realização profissional.
                                                                               Acadêmico: Edinaldo Alves Rabelo


Referências
 Minarelli, J. A. Empregabilidade: Como ter trabalho e remuneração sempre. 15 ed. São Paulo: Gente, 1995, p. 37-43.
Rocha, K. B.; Sarriera, J. C.; Pizzinato. A. Significado do trabalho e valores organizacionais. In: Sarriera, J. C.; Rocha, K. B.; Pizzinato. A. Desafios do mundo do trabalho: orientação, inserção e mudanças. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004.
Krawulski, E. A orientação profissional e o significado do trabalho. Revista da ABOP, v. 2, n. 1, 1998.





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